quarta-feira, 18 de abril de 2012

Palestra- Parte 1





  Gilles Lipovetsky, filósofo francês, foi um dos primeiros pensadores a tirar a moda da esfera das frivolidades e pensar o tema como uma ontologia de nós mesmos. Recomendo O Império do efêmero para compreender mais profundamente esse universo. 
  
   A moda é um fenômeno intrínseco da modernidade. Não existe moda sem modernidade e nem modernidade sem moda.
No meio desse surgimento, temos um personagem importante: o sujeito moderno. No século XV, com transformações sociais, econômicas e culturais que vinham acontecendo desde o século XII, esse sujeito  deixa de relegar seus planos a Deus e decide assumir sua autonomia. Este processo leva ao racionalismo, empirismo e iluminismo.




   Stuart Hall, no livro Identidade Cultural na Pós-Modernidade - livro que a Néli Pereira me recomendou um dia e cada vez que leio alguma portinha se abre- diz que a globalização começa ali naquela época. Com a expansão marítima e comercial. 


   Este homem antropocêntrico, humanista e ávido por se sobrepor a tudo e a todos, é percebido pela ruptura radical na indumentária. O gibão toma o lugar da túnica unissex. O peito se estufa e os ombros ficam incrivelmente largos. A mulher tem os peitos e ancas salientados. O objetivo é sedução. Dali para o Studio 54, foi um longoooo passo…hedonista.


   O amor cortês constrói, a partir do século XI, uma figura masculina e feminina que seduz, que deseja o belo, retomando ideiais clássicos de beleza e juventude. Este ideal é também uma forma de se ver no outro, eu sou o que o outro me vê. Questões de alteridade. A cortesia vinha de visitas às cortes. Cortejar era ação relacionada à aristocracia. 


   E as mulheres eram cortejadas por homens que tinham que estar completamente dentro dos novos padrões de sedução: controlar os impulsos, ser refinado, saber ler, criar poesias e músicas. O amor que até então era restrito ao casamento católico, cria linhas de fuga e a mulher controla por quem é seduzida. O homem deve se aprimorar para que seja aceito pela mulher amada.




   Essas histórias de amor circulavam pela Europa, pela tradição verbal. Depois com a prensa de Guttemberg, os folhetins replicando as histórias de amor eterno, que deram certo ou não, conquistaram as massas. 


   Eu acredito , como Lipovetsky, que o papel do amor cortês teve um papel fundamental para o surgimento da moda. E pensando além, acredito que ao se popularizar, surgiu o desejo de ser aristocrata, de pertencer ao meio, de também ser fino e elegante.
A leitura era restrita a poucas pessoas. As histórias eram contadas por desenhos. 


   A Europa estava numa das piores crises. Pestes, aristocratas indo à falência pelo abandono dos trabalhadores do feudo, em direcão às cidades. Uma nova classe deseja um espaço na estratificação social, um lugar naquela imobilidade. E eles detinham dinheiro e conhecimento. A aristocracia elege elementos da indumentária e a burguesia copia, mesmo tendo leis que proibiam. Logo estes elementos devem ser renovados.


   Isso é moda: mudança constante, renovação que obedece a uma lógica temporal. A roupa é o veículo escolhido para falar de moda, mas tudo que é moderno é moda. Pensamentos também entram e saem de moda. O novo sempre destrói o velho. E essa lógica hoje ainda se aplica a tudo. 
   

Um comentário:

Lidia Dantas disse...

Uma verdadeira aula, adorei conhecer esses conceitos.