quarta-feira, 18 de abril de 2012

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VESTIR O QUE ESCREVE

Quando leio o texto de alguém: um poema, um conto, um romance. De relance, observo a pessoa. O jeito de o autor se vestir. Os óculos, se tem. Que tipo de calça, colar, sandália. E pergunto: você vestiria isso o que você escreve? O poeta estranha. O romancista não entende a pergunta. Eu explico: Jorge Amado vestia o que escrevia. Wally Salomão levava à poesia o seu jeitão. Roberto Piva vestia – e se despia – com suas palavras. Aí indago, mais demorado: você seria capaz de sair à rua com o que escreve? Alguns jovens usam em demasia conjunções. Expressões pesadas. Acessórios diferentes de si. Penduricalhos do tipo: não obstante, doravante, no entanto. Você iria com isto ao banco, a uma festa, a uma praça? Sairia de casa enfeitado de adjetivos metidos, excesso de advérbios? Hein? É preciso pensar sobre isto na hora de escrever. Escrever é ser. É encontrar seu jeito de estar no mundo. Seu repertório. Seu estilo. Sua alma vestida. Não importa se feia ou se bonita. Escolha desde já a costura. Aquela sob medida. Com que você vestirá, afinal, a sua literatura.

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